Profissional de saúde coleta esfregaço nasal para teste PCR de Covid-19 para em hospital nos arredores de Siliguri, em maio de 2021 [ Foto: DIPTENDU DUTTA / AFP]
Seis tripulantes de navio ancorado no estado apresentaram resultado positivo para a B.1.617.2; não havia registro anterior da cepa no Brasil, considerada ‘preocupação global’ pela OMS
O governo do Maranhão confirmou os primeiros casos de Covid-19 provocados pela variante do coronavírus que emergiu na Índia. Ela foi identificada em tripulantes do navio Mv Shangon Da Zhi, com bandeira de Hong Kong, ancorado no estado, que viajou da África do Sul até São Luís.
Vacina
— Dos 15 resultados [de passageiros que testaram positivo para a Covid-19], foi possível fazer o estudo genômico de seis. Os demais tinham quantidade de vírus muito baixa. Em todas as seis amostras tivemos resultado positivo para a B.1.617.2, uma das linhagens da variante da Índia — anunciou Carlos Lula, secretário de Saúde do Maranhão e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
O secretário destacou ainda que a população está isolada e o navio não tem permissão para atracar em solo maranhense. Ele está ancorado em alto mar. Segundo Carlos Lula, pelo menos três pacientes, no entanto, saíram da embarcação para serem atendidos. Cerca de 100 pessoas que tiveram contato com eles estão sendo rastreadas e serão isoladas e testadas.
O governo também informou que, até o momento, não há identificação de transmissão local da variante indiana. O Ministério da Saúde foi comunicado para adoção das medidas necessárias e uma equipe foi encaminhada para São Luís.
No último domingo, o governo do Maranhão informou que fora notificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre um paciente indiano de 54 anos, um dos 24 passageiros do navio, que deu entrarada em um hospital da rede privada em São Luís com a doença na semana passada. Ele está internado em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Segundo as informações divulgadas no domingo, um teste já havia confirmado o diagnóstico, mas ainda não havia sido identificada a cepa do coronavírus causadora da doença. Uma amostra do vírus foi enviada então ao Instituto Evandro Chagas, no Pará, para realizar o sequenciamento genômico. Depois disso, foram realizados testes PCR nos outros passageiros do navio.
A variante indiana B.1.617 foi classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma “preocupação global”.
— O que temos de informação disponível indica uma transmissibilidade acentuada [da variante indiana] — disse Maria Van Kerkhove, uma das principais autoridades técnicas da OMS em Covid-19, na semana passada.
Avaliação clínica dos tripulantes
O paciente de 54 anos começou a ter sintomas no dia 4 de maio, apresentando febre. “Procedimentos médicos foram realizados previamente à sua remoção para o hospital, no dia 13 de maio, mas os sintomas persistiram. A remoção foi realizada por helicóptero por determinação médica”, informou comunicado divulgado pelo governo do Maranhão no domingo.
A Secretaria de Saúde do Maranhão informou ainda que, no domingo, uma equipe técnica inspecionou o navio para avaliação clínica dos tripulantes, coleta de amostras para diagnóstico da Covid-19 e investigação epidemiológica dos casos suspeitos.
“Toda a tripulação foi colocada em quarentena e isolada em cabines individuais na embarcação. O navio permanece em alto mar, na área de fundeio, e não chegou a atracar no porto, em São Luís”, informou, em nota.
Controle nas fronteiras
Carlos Lula afirmou que teve contato nesta quinta-feira com o secretário de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde e com o ministro Marcelo Queiroga sobre a variante indiana e que também está trabalhando em conjunto com a Anvisa.
Ele criticou a resposta “ainda muito lenta” do Ministério da Saúde para esse tipo de problema:
— Me parece que o Ministério ainda é lento nas respostas para esse tipo de problema. Há ao menos duas semanas oficiei ao Ministério pedindo atenção com a cepa indiana, para que pudesse ter cuidado nos portos e aeroportos. Houve contenção nos voos, mas infelizmente dez dias depois — afirmou.
O secretário avalia serem necessários cuidados mais rígidos nas fronteiras do país:
— Para terem ideia, na Argentina qualquer pessoa que desembarca de voo internacional faz exame, e se der positivo é isolado. Isso talvez fosse uma medida necessária para o Ministério pensar nos portos, aeroportos e fronteiras. Essas medidas cabem ao próprio Ministério da Saúde, e fiz um pedido nesse sentido para o ministro essa manhã — disse.
O GLOBO pediu resposta ao Ministério da Saúde, mas ainda não teve retorno.
Fonte: O GLOBO Por:Raphaela Ramos
20/05/2021 – 09:46 /
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