Ibama destrói 215 escavadeiras do garimpo em terra indígena com milícias e membros do Comando Vermelho
No local também foi realizada a destruição de motores estacionários e escavadeiras — Foto: Polícia Federal
Participaram da operação: A Polícia Federal (PF), a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a Força Nacional, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Fundação Nacional do Índio (Funai), a Polícia Civil, o Grupo Especial de Fronteira (Gefron) e o Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer).
Em um dos territórios mais violentos do país, na fronteira do Brasil com a Bolívia, as operações realizadas por agentes do Ibama tentam segurar o avanço do garimpo ilegal, agora suportado por milícias e pelo crime organizado.
Na terra indígena Sararé, território do povo Nambikwara, onde vivem cerca de 250 indígenas distribuídos em sete aldeias, 215 máquinas escavadeiras de grande porte foram destruídas desde janeiro do ano passado.
Segundo autoridades, o ambiente conflagrado na terra indígena envolve milícias e membros do Comando Vermelho que, nessa parte da fronteira com a Bolívia, dividem o tráfico de drogas e o controle do ouro ilegal.
Além das escavadeiras, foram destruídos ou apreendidos 30 veículos, três caminhões, dois tratores de esteira, uma pá carregadeira e uma draga. Diversos equipamentos menores, como bombas hidráulicas e geradores, também foram inutilizados em acampamentos. O balanço é de um prejuízo de R$ 300 milhões, entre janeiro de 2023 e outubro de 2024.
Ainda assim, o garimpo permanece embrenhado na terra indígena, em áreas situadas nos municípios de Pontes e Lacerda, Vila Bela da Santíssima Trindade e Comodoro, em Mato Grosso.
As estimativas é que, atualmente, cerca de 2.000 garimpeiros ainda atuem dentro do território demarcado. Garimpo em terra indígena é atividade ilegal.
Segundo autoridades, o ambiente conflagrado na terra indígena envolve milícias e membros do Comando Vermelho que, nessa parte da fronteira com a Bolívia, dividem o tráfico de drogas e o controle do ouro ilegal.
Além da destruição dos equipamentos, as operações resultaram na apreensão de dezenas de armas de fogo, incluindo uma submetralhadora e um fuzil, além de munição. O volume e o porte dos armamentos evidenciam o envolvimento de milícias e a presença de facções criminosas.
Dentro do Ibama, a decisão é de intensificar as operações. Das 215 escavadeiras destruídas, 100 delas foram capturadas neste ano. As operações de fiscalização foram realizadas pelo Grupo Especializado de Fiscalização, com apoio da Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional de Segurança Pública e Fundação Nacional dos Povos Indígenas.
“Essa região sempre teve exploração mineral irregular, mas de alguns anos para cá isso se intensificou, principalmente com a atitude permissiva do garimpo pelo governo anterior”, diz o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Jair Schmitt. “A realidade mostra que não há pequeno garimpeiro. Estamos falando de exploração ilegal em grande escala. Isso dá uma ideia do quanto de ouro ilegal está saindo dali.”
Desde 2023, o Ibama realizou 11 operações de fiscalização ambiental na região. A terra indígena Sararé foi oficialmente demarcada em 1985, mas tem sido alvo de invasões constantes para a exploração de ouro.
Este ano marcou um recorde de alertas de garimpo na terra indígena, com 570 hectares de destruição identificados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Há menos de um mês, na madrugada do dia 28 de setembro, um confronto entre garimpeiros e agentes que atuam na terra indígena Sararé terminou com cinco mortos.
Segundo os órgãos oficiais, as equipes de fiscalização foram atacadas a tiros durante uma ação de combate ao garimpo ilegal.
Mesmo com o encerramento das atividades em campo, a polícia informou que as investigações continuarão para identificar os financiadores da atividade ilegal e o possível envolvimento de proprietários rurais da região.
Chacina na Sararé
Há três semanas, quatro pessoas morreram e uma ficou ferida em uma chacina em um garimpo ilegal na Terra Indígena Sararé. Duas vítimas foram identificadas como Fabio Tavares Siriano, de 33 anos e a esposa, Flavia Melo Miranda Soares, de 20 anos.
Flávia Miranda é natural do Acre e teria ido ao garimpo encontrar o marido, Fábio.
De acordo com o delegado João Paulo Berté, a chacina teria sido motivada após uma briga dentro do garimpo, por área de exploração. Uma das linhas de investigação da polícia é que os envolvidos tenham ligação com organização criminosa.
Crescimento da exploração
Documentarista registra degradação ambiental na terra indígena Sararé
A Terra Indígena Sararé abrange os municípios de Conquista D’Oeste, Nova Lacerda e Vila Bela da Santíssima Trindade. Nos últimos anos, a região tem sido alvo de uma intensificação das atividades garimpeiras, que ameaçam não apenas a integridade do meio ambiente, mas também a saúde e os modos de vida das comunidades indígenas locais.
A primeira operação das forças de segurança foi em maio de 2020, quando policiais desocuparam um garimpo ilegal de ouro. Porém, após a saída das equipes, os garimpeiros invadiram novamente.
Em abril deste ano, foram apreendidas 22 pás carregadoras avaliadas em mais de R$ 17 milhões, 39 motores estacionários, duas bombas d’água, um gerador e duas britadeiras foram destruídas, durante a “Operação que Ouro Viciado”.
As escavações indiscriminadas provocam desmatamento, poluição dos rios e degradação do solo, o que afeta diretamente o abastecimento de água e a biodiversidade local. Segundo dados do Ministério Público Federal de 2022, a TI Sararé tem cerca de 5 mil garimpeiros.
Segundo lideranças indígenas da região, o território é uma área de grande importância ambiental e cultural, mas tem enfrentado sérios desafios relacionados ao garimpo clandestino.
Fonte: com informações do UOL e G e Publicado Por: https://www.adeciopiran.com.br em 23/10/2024/15:26:38
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