Furiosos, indígenas da etnia Kayapó de Novo Progresso e São Feliz do Xingu mantém ocupação de sede da Norte Energia por ela romper acordo

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Os indígenas querem a manutenção do acordo de repasses pela Norte Energia, mas a empresa não quer cumprir e ainda entrou na Justiça para retomar o prédio ocupado | Foto de Wilson Soares, da Voz do Xingu

No sul e sudeste do Pará, há um ditado que parece carregar mais do que um toque de sabedoria local: “Autoridade inteligente não briga com os Kayapó.” Não é por acaso. Guerreiros reconhecidos por sua habilidade, estratégia e determinação, os Kayapó sabem exatamente o que querem e não medem esforços para garantir seus direitos.

Essa verdade ficou evidente em Altamira, no Vale do Xingu, onde cerca de 80 indígenas da etnia Kayapó, cujas aldeias ficam localizadas entre os municípios de Novo Progresso e São Félix do Xingu, protestam desde a última segunda-feira (25), ocupando a sede da Norte Energia.

O motivo da mobilização é a cobrança pela renovação de um acordo essencial, que assegurava o repasse de recursos para a proteção de terras indígenas contra crimes ambientais. O acordo, firmado há mais de uma década como parte das Condicionantes Indígenas de Belo Monte, venceu há um ano e não foi renovado, deixando três terras indígenas — Baú, Menkragnoti e Kayapó — vulneráveis ao avanço do desmatamento e da mineração ilegal.

Como resposta à Norte Energia, os indígenas bloquearam trechos da avenida que dá acesso ao prédio da empresa e ao aeroporto de Altamira, utilizando cordas para impedir a passagem de veículos. Segundo lideranças Kayapó, o acordo desandou após a privatização da Eletrobrás, maior acionista da Norte Energia, responsável pela usina de Belo Monte.

Na quarta-feira (27), caciques participaram de uma reunião com representantes do Ministério dos Povos Indígenas, Eletrobrás, Norte Energia, Instituto Kabu e da Associação Floresta Protegida dos Kayapó. O encontro, no entanto, terminou sem avanços. Indignados com a falta de entendimento, os manifestantes decidiram manter o protesto.

Enquanto isso, a Norte Energia recorreu à Justiça e solicitou a reintegração de posse de sua sede, ocupada pelos Kayapó. Procurada pela imprensa, a empresa ainda não se posicionou sobre as reivindicações indígenas.

Lição de resistência e alerta

Os Kayapó oferecem, mais uma vez, uma lição clara: não são apenas guerreiros no sentido tradicional, mas também defensores incansáveis de suas terras e direitos. Eles conhecem os impactos devastadores da exploração desenfreada e têm plena consciência do papel fundamental que desempenham na proteção da Amazônia.

Para aqueles que frequentam ou administram o sul e sudeste do Pará, ignorar a força e a determinação dos Kayapó é cometer um erro estratégico grave. Confrontá-los sem diálogo é como enfrentar uma tempestade sem abrigo — a derrota é quase certa.

Mas o protesto também é um alerta mais amplo. Em um cenário onde questões ambientais e indígenas são cada vez mais relegadas, os Kayapó estão lembrando ao Brasil que não há desenvolvimento sustentável sem o respeito aos povos originários e à natureza. A “paz de Belo Monte”, tantas vezes negociada, está se esvaindo.

Divertir-se em festas, como em Altamira, ou desenvolver grandes empreendimentos, como Belo Monte, precisa ser feito com consciência e respeito. Quando direitos básicos são negligenciados, a resposta pode vir com força proporcional à resistência histórica dos Kayapó. E, como sempre, eles sabem o que querem.

A empresa entrou na Justiça para que os indígenas desocupem o prédio, em Altamira
A empresa entrou na Justiça para que os indígenas desocupem o prédio, em Altamira

Fonte: ver-o-fato  e Publicado Por: https://www.adeciopiran.com.br em 02/12/2024/15:30:38
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