Atoleiros e bloqueios na BR-163 impedem estudantes de frequentar as aulas em Novo Progresso

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Há uma semana os estudantes do ensino fundamental e médio das comunidades Linha Gaúcha e Riozinho das Arraias, do município de Novo Progresso (PA), não conseguem ir à escola por conta dos bloqueios na BR-163.(Foto:Reprodução Redes sociais)-

A dificuldade de trafegar por essa via é comum durante o ano todo. No período seco, a poeira dificulta a visibilidade. Já no tempo chuvoso, a estrada fica lisa e com atoleiros em vários pontos, o que dificulta a locomoção e por muitas vezes acarreta em bloqueio parcial ou total da pista. Em ambos os casos a estrada coloca em risco a segurança de quem passa por ela.

Situação que o LIVRE acompanhou de perto no início de 2017. Uma equipe da redação foi enviada para passar alguns dias naquela região e conhecer o drama de famílias inteiras que acabaram ficando sem nenhum tipo de assistência. Sem água, comida e até mesmo leite para crianças.

Com 3.476 quilômetros de comprimento, 707,4 ‘cortam’ o Pará. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), ainda faltam 51 quilômetros a serem asfaltados, divididos em duas partes: 3 km na Vila do Caracol e 48 km entre os municípios de Moraes de Almeida e Novo Progresso.

É do interior desse último município que de segunda a sexta-feira sai o ônibus escolar, às 11h20, ocupado por 35 alunos com destino à Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIEF), São José.

Trata-se da comunidade Linha Gaúcha, vila em que mora o estudante Gabriel Vinicios, de 12 anos. Ele que cursa o sétimo ano do Ensino Fundamental diz que gostou do primeiro dia sem aula, mas que já sente falta da escola e dos amigos.

Gabriel, apesar de novo, tem consciência que o longo caminho até chegar ao colégio é um grande problema, que desanima. “A dificuldade que a gente sofre pela poeira, pela lama, carretas. A gente não consegue passar e fica horas e horas trancado [na estrada], vai chegar em casa de noite, já às 19h, 20h”, desabafa.

Foto: O estudante Gabriel Vinicios e seu pai Francisco da Silva Souza/Arquivo Pessoal

E ele ainda sugere uma solução para o problema, que também é um desabafo. “[Tem] que asfaltar logo essa estrada. A gente sofre na poeira. Tem gente que fica até ruim por causa dela. Também para acabar com essa lama, essas filas de carreta”.

Seu pai, Francisco da Silva Souza, motorista e agricultor familiar, conta que se não fosse a grande quantidade de carretas, até dava pra passar. Mas não culpa os caminhoneiros.

“Eles têm que trabalhar. É a logística. O governo que não se adequou no momento exato para poder enviar esse monte de carreta pra cá, né?”, avalia Chico, como é conhecido na região.

Contudo adverte que os caminhoneiros precisam ter consciência. Segundo ele, muitos percebem que não dá para subir as serras, e mesmo assim insistem em tentar. Com isso, “Um enrosca no outro, aí vem outro e acaba trancando tudo. Eles vão formando fila dupla, tripla. Aí tranca tudo e vira essa bagunça toda”, avalia Francisco.

Chico diz ficar triste por ver seu filho perder aula e lamenta por não poder fazer nada para resolver a situação. “A gente fica preocupado. Ele vai ser prejudicado e isso vai acarretar consequências futuras no ensino dele, quando chegar na faculdade”.

Apesar da adversidade, o agricultor diz que Gabriel dificilmente falta aula. “Só se for um caso de doença”. E conta que motiva seu filho a esforçar para recuperar o que perdeu.
Estudantes no Ensino Médio

Da Comunidade Riozinho das Arrais é que sai o ônibus com os alunos da escola Waldemar Lindermayr, única que atende os estudantes do Ensino Médio. O coletivo com quase 40 alunos parte da vila às 4h30 da manhã, com o objetivo de chegar em Novo Progresso às 7h.

Foto: A estudante Jaynara Almeida e seus amigos da escola/Arquivo pessoal

A estudante Jaynara Nascimento de Almeida, 16, cursa o último ano do ensino médio e tendo em vista que prestará vestibular este ano e pretende dar início na faculdade em 2020, decidiu se hospedar na cidade, para não perder aula.

“Está chegando o Enem, ano que vem faculdade, se eu ficar na dependência do ônibus, vou me prejudicar muito”.

Segundo a adolescente, muitos colegas fizeram o mesmo, para não ficar sem participar das aulas. “Porque a BR está intransitável”, justifica.

Ela diz que sabe da importância de estar na aula participando. “Ir para a escola, pegar as tarefas, fazer no caderno e passar para o professor dar visto para ganhar ponto, não é a mesma coisa que ir para aula”, explica, ao dizer que pretende seguir a mesma carreira do pai que é professor.

Jaynara mora a menos de 70 km da escola, percurso que demora pouco mais de uma hora, quando a estrada está em boas condições. Mas ela conta que dessa vez, o trajeto durou 4 horas.

Queixa que os estudantes são os que mais sofrem com essa situação, pois tem sido “privado de seu direito de ir para a escola e ninguém está vendo isso”, critica.

A adolescente também avalia que esse a situação da estrada é a pior vista por ela. “Nunca chegamos a ficar por tantos dias assim, sem ir pra escola”. Em seu ponto de vista, os problemas na BR-163 estão mais graves dado ao número de caminhões que estão indo para a região, para ela, muito maior que os outros anos.
Operação Radar

O plano estratégico apresentado no fim de janeiro pelo staff federal não tem dado conta do recado. O objetivo do projeto que integra quatro ministérios é fazer com que as commodities mato-grossenses da safra 18/19 de grãos cheguem nos portos do Arco-Norte do país.

Foto: Edsom Leite/MInfra

Apesar de envolver mais de 900 pessoas do Dnit e exército, munidos com toda sorte de maquinários, equipamentos e veículos, para dar suporte aos caminhoneiros – e não deixar que fiquem parados na estrada -, os trabalhos têm sido insuficientes.

Até o sábado (02), já haviam três mil carretas paradas pela rodovia. Situação que levou o vice-prefeito de Novo Progresso, Gelson Dill pedir aos produtores de Mato Grosso, que parem de carregar as carretas por um período.

Dill pede para que os sojicultores fiquem de sete a dez dias sem enviar cargas de oleaginosas para a região, alegando que não há mais local para colocar carretas.

O professor Joarez Almeida morador da comunidade Linha Gaúcha avalia que essa operação não está servindo de nada. “Os coitados dos caminhoneiros ficam aqui a deriva. Sempre que posso ajudar eles, a gente ajuda. Eles chegam aqui atrás de água, muitas vezes atrás de comida. Até agora não vi o governo ajudando os caminhoneiros não”, justifica, ao dizer que mora em frente à rodovia.

Ele ainda diz que os militares do Exército Brasileiro que faz o controle da pista e que esse trabalho é importante, na região. “Os carreteiros estão todos nervosos com eles já. Mas se eles não tivessem, seria pior ainda”, avalia.

Por: O Livre/Edyeverson Hilário/ pautas@olivre.com.br

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